O doce controlador
- Ana Vitoria
- 15 de out. de 2017
- 2 min de leitura
-Eu nunca fui destas coisas, nem sei bem porque é que vim.
Os olhos brilhantes disfarçavam o nervosismo e procuravam respostas. A sessão com este homem jovem começou sem rodeios nem necessidade de introdução. A urgência era clara para ele, foi directo ao assunto, como de resto é comum nos consulentes masculinos.
O ponto principal era, ao fim e ao cabo, uma necessidade tremenda de contacto físico com a namorada que vivia longe, uma vontade controladora que tirava a lucidez e criava desconfiança, sem razão aparente. "Um doce controlador", pensei eu para os meus botões.

O Arcano XV - O Diabo, figura central desta sessão, aprisiona a vontade, mantém cativo o espírito como uma marionete, presa com os leves fios da sua teia de sedução. O Diabo brinca com os desejos com um toque de mestre.
Naturalmente, as cartas foram claras e pouco a pouco o quadro da situação ficava completo. Desvio o rumo da conversa par a necessidade de auto-observação e rapidamente vem ao de cima uma consciência como que adormecida, que só precisava de ser desperta...
São estes momentos que tornam o trabalho com o Tarot tão especial. As perguntas apenas serviram de mote para levantar questões muito mais importantes relacionadas com padrões inconsciente de comportamento e a sua provável origem. Mas, ao mesmo tempo, é importante dar dicas concretas para lidar com a situação - uma mente inquieta não se contenta com teorias e frases subjectivas. Por sua vez, essas dica põem a nu a parte de responsabilidade na circunstância, coisa de que o consulente raramente fala, ou seja, o quadro fica sempre incompleto porque é feito apenas na primeira pessoa, nunca mostra todos os ângulos.
As peças conjugam-se, o nervosismo inicial dá lugar a um respirar de alívio e cria-se uma "ponte de confiança", de tal forma que quase não preciso de falar porque tudo está tão claro.
- Fez-me mesmo bem, estava a precisar de falar sobre isto. Agora já sei porque é que vim.
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