Um caso real
- Ana Vitoria
- 17 de jan. de 2016
- 2 min de leitura
A interpretação das cartas de Tarot não se resume aos significados descritos num qualquer livro sobre o tema. É um erro comum de principiante limitar a leitura a palavras-chave relacionada com cada carta e a única forma de evitar isso é o constante estudo e a constante prática nas leituras. Algumas cartas têm uma conotação tão forte com determinados adjectivos que se tornam um verdadeiro "bicho-papão" quando surgem em consulta. Por vezes é o próprio consulente que reage de imediato quando vê uma dessas cartas, com medo do que possa ser dito de seguida... Cartas como a Morte ou o Diabo são um exemplo evidente.
No caso que relato a seguir, a carta do Diabo causou alguma inquietação e, de alguma forma, parecia estar fora de contexto, em relação às restantes.

Uma das questões da sessão era o relacionamento entre a consulente e as filhas, já adultas. Uma mulher de aparência jovem e cuidada, atormentada pela dificuldade de lidar com as filhas, principalmente no último ano e meio, depois de surgir um elemento novo na equação familiar: o namorado da mãe.
Entre outros detalhes, o Dois de Copas, a Rainha de Espadas e o Diabo mostraram-me o que estava dificultar esse relacionamento - alguma rigidez na postura e uma dificuldade tremenda de comunicar o que verdadeiramente sente.
Ao recusar confrontar as críticas constantes das filhas, deu-lhes mais poder sobre ela - já que nunca as contrariou, nem foi capaz de assumir o seu próprio poder para lidar com a nova circunstância.
Esta falta de poder pessoal traduziu-se num enorme vazio de comunicação (por omissão), em que a mãe se silenciava perante as críticas ou diferenças de opinião das filhas. Este calar constante criou uma ferida profunda no relacionamento. Mais ainda, surgiu também o medo de avançar na sua relação amorosa, o que trouxe instabilidade emocional ao casal - uma relação naturalmente equilibrada e que agora se mantinha num impasse.
Neste caso, o Diabo mostrou-me as consequências das feridas emocionais profundas, fruto não só da circunstância actual mas também de uma parte do seu passado... As correntes representadas na carta são também as correntes que prendem esta mulher e não a deixam agir de outra forma, dando tanto peso às suas relações mais próximas.
As cartas facilmente deram resposta aos anseios desta mãe, que intuitivamente entendeu o caminho a seguir, apesar da dúvida que lhe assolou a mente:
- Mas eu não sei se sou capaz de mudar...!
- Não tem que mudar porque o que precisa já está dentro de si e já o demonstrou noutras áreas da sua vida - o amor, a compaixão, o saber colocar-se no lugar do outro; a importância de marcar posição de forma segura e sem criar conflito para não calar o que a magoa. É essa a chave para mudar as circunstâncias.
É assim que cada sessão de Tarot traz uma nova história e uma nova aprendizagem, que todos os dias agradeço ao universo. Mais ainda quando, no final, vem a cereja no topo do bolo, na forma de um simples comentário: "Soube-me tão bem ouvir as suas palavras, foi muito bom!"
É isto, o Tarot terapêutico :)
Commentaires